segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

A dominação da mente pelo Panóptico

[...] não importa o quão diferente, ou mesmo oposto seja o propósito: quer seja ele o de punir o incorrigível, guardar o insano, reformar o perverso, confinar o suspeito, empregar o ocioso, guardar o abandonado, curar o doente, instruir o bem-disposto em qualquer ramo de ofício, ou treinar para a corrida ascendente a caminho da educação: em suma, quer seja aplicado aos propósitos das prisões perpétuas na sala da morte, ou prisões para o confinamento antes do julgamento, ou penitenciárias, ou casas de correção, ou casas de trabalho, ou manufaturas, ou casas de loucos, ou hospitais, ou escolas (Bentham, 1995).
Podemos dizer que tal descrição está, a princípio, envolvida na finalidade dada por Bentham e elogiada pelo próprio quando afirma que o Panóptico é um modelo de vigilância por excelência. Mas fugindo desse princípio arquitetônico de visibilidade de poder, típicas das sociedades de soberania, Foucault observa que o Panóptico sugere um dispositivo – “Pertencemos a certos dispositivos e neles agimos”, explica Deleuze. Ou seja, os dispositivos agem nas pessoas as assimilando aos seus mecanismos de forma que tudo que fazem é por estar com a sensação de estar sendo vigiados. Envolve os psiquismos* e a convivência de um indivíduo dentro de sua sociedade.

*Mas não vamos entrar nestes detalhes complexos agora.
Falaremos sobre a evolução dessa sociedade que usa deste dispositivo para manipular sua força de trabalho.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Sobre vigilância e poder

Para se entender melhor sobre a vigilância e seus efeitos, temos que, primeiro, entender a sociedade disciplinar, por isso, a explicação anterior.
A sociedade disciplinar fala do corpo social em forma de força de trabalho que, para virar esta força, é preciso ser moldado. Este molde é instituído pelos padrões e pela vigilância exercida. Esta vigilância se torna imprescindível para a ordem da sociedade e é empregada nas escolas, nos hospitais, em casa e em todo lugar a fim de normalizar a vida de todos.
No caso da escola, o quadriculamento dos horários, das carteiras e a posição delas na sala, a distribuição dos alunos de acordo com as notas, tudo isso como forma de normalização e de mostrar o que não deve ser feito e a individualização que, antes, não era valorizado.
Toda esta vigilância que é adotada por esta sociedade tem como sentido primordial a produção, com isso o individuo que é bem vigiado, será produtivo e será incluído no grupo dos normais, que estudam, trabalham, tem uma família.
A norma, que tanto é falada nesta sociedade, obriga a homogeneidade mas também a individualidade permitindo desvios; torna as diferenças úteis; o corpo da sociedade sofre a norma ate que se torna um hábito; hierarquiza e exclui, dividindo a sociedade em grupos: doentes, criminosos, normais e loucos; e assim, formando um corpo útil e dócil = obediente e forte.

Isso tudo ocorre pelo fato de que na sociedade disciplinar, o foco maior é o poder de poucos sob muitos. Isso é notório quando se é discutido o uso do Panóptico, comentado por Michael Foucault e inventado por Bentham, mas isso será falado no próximo post.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Sociedades...

Basicamente, a sociedade de soberania (séc. XVII e XVIII) pode ser resumida pelo corpo do Rei: tudo o que se passa nesta sociedade é automaticamente direcionada ao Rei que pode levar como afronte ou deleite. A sociedade é identificada pelas ações do seu monarca – o exercício de seu poder ocorre de acordo com as ações da sociedade: um afronte de um súdito é resolvido pela “mão” do rei que penaliza aquele individuo com um ato em praça pública, e por ser uma ordem do Rei, era considerada uma ordem justa e divina.
A busca da restauração do corpo do monarca era exercida por meios de rituais como os suplícios e vassalos a fim de servir como exemplo aos demais.
A masmorra é o lugar para onde eram levadas as pessoas que afrontavam o corpo do Rei e não tinha volta. O lugar escuro seria a última morada do individuo que não seguisse as ordens do Rei.



*Lembrando: Reza a lenda que os Reis eram denominados por uma divindade a conduzir o seu povo e organizá-lo de forma decente seguindo as regras de sua crença.

A sociedade disciplinar (séc. XIX e inicio do séc.XX), talvez a mais complexa das três, pode ser contada como uma sociedade que prega o molde a fim de manter a ordem da sociedade. O corpo social é o novo principio, sendo assim, o monarca não tem mais aquela função de dar o exemplo.
Nesta sociedade, a substituição de rituais é dada pela proteção quase médica do corpo social – vejamos exemplos: a normalização dos indivíduos a fim de que os mesmos sejam iguais e possa ocupar suas funções futuramente; idealização de um criminoso serve para que não seja copiado o mesmo ato, porem quando não o idealizamos, podemos nos igualar a um deles.
Por isso, nesta sociedade eram afastados os ditos como anormais (doentes, loucos, criminosos...) com a finalidade de mostrar o que não poderia ser copiado. Um detalhe importante é que nesta sociedade o errado era mostrado como exemplo a não ser seguido.
A norma, então, era o controle minucioso das operações do corpo que realiza a sujeição constante de suas forças e lhes impõe uma relação de utilidade
Nesta sociedade, ouviu-se pela primeira vez a questão de recuperação e reintegração de um individuo.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O público e o privado 2

No caso de um governo, como anteriormente foi citado, podemos resumir que nos tempos das sociedades monárquicas havia dois tipos de relação entre o rei e os súditos: a visível, com aparições repentinas no alto da torre, afirmando sua superioridade e força aos demais e a invisível, que aconteciam na clandestinidade de seu castelo, conduzidos por membros da corte longe das vistas dos súditos, o que tornava a realeza um ponto de referência sobrenatural, às vezes.
Na entrevista de Michael Foucault a Jean-Pierre Barou, intitulado como “O Olho do Poder” é comentado sobre as sociedades denominadas de Soberania, Disciplinar e de Controle. Cada uma delas, com atividades e características próprias, falam como de fato as sociedades evoluíram de acordo com a forma como foram adotadas as medidas a fim de que fossem os indivíduos adaptados as regras gerais dessas sociedades. Características essas muito curiosas que gostaria de comentar aqui, em um novo post.

O Público e o Privado

O paralelo entre o público e o privado vem atravessando o tempo transformando as sociedades através dos séculos.
Pode-se definir este paralelo como uma dicotomia: o público exercendo atividade de autoridade visível tornando algo notório à participação de todos e o privado excluindo a participação, criando uma atmosfera mística de poder entre o que não se pode ver, mas que de fato torna-se algo poderoso.
No caso do governo, nota-se este tipo de comportamento quando se trata das formas de governo de visibilidade e invisibilidade. Assembléias e discursos tornam visíveis as tomadas de decisões feitas pelo governo auto-afirmando o seu poder perante os súditos, já as cúpulas e reuniões às portas fechadas torna o evento místico e curioso, por isso, tem sua relevância e poder sobre a sociedade.
Esse tipo de adversidade surgiu no século XVII na Grécia Antiga.